Cartomancia: o que é isso?
- Reduto Místico

- 11 de ago.
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Atualizado: 28 de ago.
Como esse conhecimento centenário pode orientar sua vida em fases de tempestade.

Antes de realizar minha primeira consulta esotérica da vida, confesso que tinha alguns estereótipos na cabeça: apenas ciganos ou pessoas com ‘dom’ podem usar as cartas, cartomantes falam com espíritos, não preciso falar nada durante a consulta, cartomantes sempre se vestem de uma certa maneira, oráculos servem mais para ver sobre amor e dinheiro etc. Eu estava enganada.
Nem todo cartomante se conecta com entidades. Mediunidade é uma coisa, cartomancia é outra. Dá para descobrir muito mais do que a vida do seu ex ou futuro amor. Enfim, não existe uma regra para ser cartomante. A cartomancia é para todos e pode ser aprendida em qualquer fase da vida.
Mas afinal, o que é cartomancia? Qual a sua função?
Cartomancia é a prática de prever ou interpretar situações da vida por meio de oráculos de cartas. Ela combina o estudo simbólico e arquetípico com a intuição e experiências do cartomante para oferecer orientação, alertas e insights.
Registros históricos indicam que os primeiros tarôs surgiram por volta do ano de 1400 na Itália. Já o Lenormand, também conhecido no Brasil como Baralho Cigano, teve suas primeiras versões na Alemanha antes de se popularizar na França. Sua origem é ligada ao jogo de tabuleiro Das Spiel der Hoffnung (O Jogo da Esperança), lançado em 1799 por Johann Kaspar Hechtel. Em algum momento, o jogo ganhou uma nova interpretação e passou a ser associado à Marie Anne Lenormand (1772–1843), célebre cartomante francesa. Madame Lenormand se tornou conhecida por atender figuras influentes da época, como Napoleão Bonaparte, Josefina de Beauharnais e Robespierre.
No Brasil, a cartomancia foi oficialmente reconhecida pelo Ministério do Trabalho em 2002, sob o código de CBO 5168–05. Entretanto, mesmo sendo uma atividade legalizada, ainda é envolta em mitos e preconceitos. Foi por essa razão que decidi escrever este artigo.
Como funciona?
Uma boa parte das pessoas pensa que usar cartas é “chutar” coisas sobre as outras pessoas (tipo qual número vai sair no dado) ou ter visões proféticas e aleatórias. Não é nada disso. É método e estudo.
Descobrimos coisas sobre estranhos porque estudamos como cada carta pode se manifestar em diferentes situações da vida. Investigamos os símbolos através da história e das culturas. Identificamos padrões que nos permitem dizer que tal carta é um excelente indicativo de sucesso em determinado assunto. O que é falado numa consulta é uma mistura de desse conhecimento teórico e prático com pitadas de intuição e sabedoria pessoal. Estudamos arquétipos, mitologia, numerologia, religião, semiótica, psicologia das cores…
De onde vem as respostas?
Da própria energia da pessoa: o que ela é, como pensa, onde vive, como interage com os outros, o que absorve dos outros. Tudo é condensado na forma dos símbolos que melhor correspondem a essas informações.
Energia e vibração não são palpáveis, certo? Assim, o trabalho do cartomante se assemelha ao trabalho de um tradutor. Não dá para ser 100% exato, como muitos esperam, pois sempre há nuances que escapam. Algumas informações mudam de significado conforme o contexto, outras não têm equivalência direta, outras escapam do nosso entendimento humano limitado. Cartomancia não é matemática. Entretanto, com prática e técnica, o cartomante pode alcançar um alto nível de acerto e detalhismo.
Agora, vou tocar num ponto sensível. Há quem afirme não precisar estudar por já ter nascido com o “dom”, ou porque as entidades contam tudo. Essa justificativa sempre me soou estranha. Nesse caso, qual seria a necessidade da carta? Ou de qualquer outro oráculo? Já me deparei com bios de Instagram onde a pessoa diz que é de uma “longa geração de cartomantes ciganas”, num tom como se origem e ancestralidade fossem garantia de conhecimento. Esse tipo de discurso só desmotiva quem quer começar a estudar. Eu, por exemplo, comecei já adulta e sou a primeira da minha família a se aventurar no assunto. Facilidade? Talvez. Tendência de outras vidas? Pode ser. Mas não é dom!
Isso me lembra o excelente livro Mindset: A Nova Psicologia do Sucesso (2006). Ele fala sobre como nossa cultura associa esforço e estudo com “burrice” e falta de aptidão. Na verdade, ser bom em alguma coisa é uma combinação de fatores: predisposição natural, dedicação e capacidade de aprender com erros e desafios, a chamada mentalidade de crescimento.
Aliás, como eu me tornei cartomante? Talvez inspire você.
Meu caminho com as cartas
Cresci numa família espírita-católica, mas nunca fui religiosa; era curiosa. Felizmente, não havia preconceito nem restrições religiosas dentro de casa. Hoje, me considero espiritualista.
Conversas e notícias sobre extraterrestres, paranormalidade e vida após a morte sempre me chamaram a atenção. No entanto, meu interesse era transitório e superficial, como horóscopo de jornal. Ora eu acreditava, ora achava besteira. Passei até por algumas fases de descrença e quase ateísmo. Foi justamente em uma dessas fases que comecei a estudar Tarot.
Foi na época da faculdade, bem no comecinho. Fiz algumas consultas de Tarot por mera curiosidade. Curti, mas não dei muita bola. Um tempo depois, passei por um dos anos mais difíceis da minha vida até agora. Término de relacionamento, perda familiar, desemprego, morte do meu gato e problemas de saúde causados pelo abalo emocional.
Em busca de respostas, comecei a procurar sobre conteúdos espirituais que me trouxessem alguma luz. De repente, o Tarot reapareceu. Só que dessa vez, foi diferente. Meus olhos brilharam. Vi as cartas de outra forma. Achei lindo: a arte, os detalhes, os símbolos. Por outro lado, não entendia como alguém poderia “adivinhar” minhas questões mais íntimas somente olhando para um pedaço de papel.
Não me bastava fazer uma consulta. Eu queria entender como funcionava. Nesse misto de ceticismo e curiosidade, tomei uma decisão. Vou estudar Tarot por um mês para ver se isso funciona ou se é besteira.
Um mês depois, comprei meu primeiro Tarot. Até hoje lembro das minhas mãos geladas, da ansiedade, do receio de que meu simples ato “atrairia espíritos obsessores”. Novamente, aqueles estereótipo bobos. E adivinha qual carta apareceu? A Morte. A melhor carta para resumir o que eu estava vivendo.
Meses depois, dei uma chance para o Baralho Lenormand e me apaixonei. Naquele ano, formei um grupo de estudos na internet com mais de 50 cartomantes. Recebi elogios e feedbacks positivos, mas não me sentia preparada para atender. Porém, um ano depois, o que começou como hobby se transformou lentamente em renda extra e parte essencial da minha vida.
Descobri um outro caminho possível para o autoconhecimento, evitei ciladas (e embustes), antecipei problemas, passei a compreender mais sobre os outros e sobre mim.
As cartas são como uma lanterna numa rua completamente escura e deserta. Sem ela, você não consegue ver nada. Pode cair num buraco, ser surpreendido por um cachorro bravo, parar numa rua sem saída etc. Mas com a lanterna na mão, você consegue iluminar o caminho à sua volta, identificar obstáculos, placas, perigos e possíveis saídas. Sim, até a lanterna mais potente terá um limite de alcance. A luz não alcança todas as ruas, somente alguns metros à frente. Mas esse alcance já é suficiente para te tirar do caos e das armadilhas da vida.
A cartomancia foi o empurrão que eu precisava para investir mais no meu autoconhecimento. Assim, eu entendi quais caminhos já não faziam sentido e novas possibilidades para o futuro. Se isso me ajudou, pode ajudar você também.





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